Wednesday, September 12, 2007

"Cada encontro de duas criaturas no mundo é uma dilaceração."

Talvez por ter sido adiada durante tanto tempo, essa dilaceração agora me consuma com tamanha intensidade. E fico aqui, à beira dessa gigantesca falésia, construída de passados fósseis e espectros futuros, partida ao meio, ao sabor dos ventos inconstantes, pouco me importando com o que pode eventualmente ser levado para longe.

[ homenagem livre a italo calvino. e também a roger chartier, que eu não li e não gostei. ]

Tuesday, September 11, 2007

pt. 2

Confrontada com aquela avalanche de rancores doces e esperanças desesperadas, ela se sentiu ainda e de novo como uma menininha. Uma tola menininha, desconhecedora então dos mais elementares mistérios das palavras, sem a mais difusa idéia de quais dizer. A verdade é que poderia construir as mais belas enunciações elaborações elucubrações, e de pouco adiantaria. Naquele momento, teve a certeza de que estava diante de um sonho não partido, mas estilhaçado, esmigalhado, implodido, feito pó. A qualquer tentativa de reuni-lo, acabava por escorrer entre os dedos, como a areia que um dia trouxera sorrisos a seu rosto, nos tempos em que ainda brilhavam as cores da infância. Apenas para se juntar a todos os outros e se perder, para sempre.

Sunday, September 09, 2007

des rêves.

Foi apavorante perder, ainda que em sonho, este pequeno repositório de devaneios da cor do céu. Parecia com ele se esvair muito daquilo a que se convencionou chamar Identidade. Essa ficção necessária, sem a qual é impossível conduzir os dias com um mínimo de profundidade. Resta a tristeza de saber que, para tantos, toda essa caleidoscópica polissemia se resume a uma série fria de números.
[ credo, ando escrevendo demais - e dizendo de menos. até parece março de 2005, all over again. ]

Saturday, September 08, 2007

exercício dadaísta de metalinguagem.

Quando me forço a escrever, acabo por ignorar os limites do exagero. Assumo um tom dramático, catastrófico até, que pouco tem da máscara conciliadora que costumo vestir. Inocente engano. Esse - e tantos, tantos, muitos mais do que posso pretender saber - é apenas mais um tom, mais uma textura, mais uma face. Desistindo de empreender uma busca labiríntica por saídas, sigo, pouco importando para onde, desde que chegue às paragens certas. Faço-me em paradoxo, e fico a ziguezaguear pelas ruas, gritando para ninguém, que me escuta atentamente.


[ das profundezas do caderninho azul, na falta de coisa melhor. ]

Wednesday, September 05, 2007

historieta em dois atos.

I.

A menina pudera comprovar finalmente (como se lhe faltassem ainda evidências) que enunciar é sempre dar às coisas uma natureza mais real, mais consistente, mais profunda. Mais perigosa, em resumo. Uma vez postas a bruxulear pelo mundo, sem rumo nem propósito, às palavras não mais era permitido retornar ao quente abrigo escuro de onde jamais deveriam ter saído. E não se deixar trair pela boca era uma lição que ela se via incapaz de aprender.


[Entreato: And I'm a mess. A messy mess. And the thing is, I don't even want to know wheter that's good or bad or marvelous or disastrous. ]


II.

Outra lição em que fora a mais relapsa das alunas: a de se prevenir contra os desmandos do acaso. Pega de surpresa, via-se como que arrancada do terreno que fizera familiar, sem poder resistir a essa força que puxava e repuxava bruscamente uma profusão de minúsculos fios intangíveis. Queria colocar em descrédito qualquer idéia determinística, queria crer que algo ainda restava a seu arbítrio (caso contrário, haveria algo mais em que acreditar?). Mas era apenas uma menina, pouco mais que uma menininha, e, enquanto não aprendesse a dessa condição se libertar, continuaria a ser um só marionete, um mero joguete, entregue às mãos traiçoeiras do Tempo.


[ ... e no final do dia ainda choveu. não sei como coube tanto em um só, em uma só. ]

Monday, September 03, 2007

A idéia de que abrir uma porta era sempre fechar uma infinidade de outras seria seu eterno tormento. Por mais que não a conseguisse negar, a menina insistia em tentar dobrá-la, entrando ruidosamente em vários aposentos, buscando inutilmente a todas aquelas paredes se agarrar.

[ penal III estava especialmente tedioso hoje. deu nessa porcariazinha ai. ]