Wednesday, September 05, 2007

historieta em dois atos.

I.

A menina pudera comprovar finalmente (como se lhe faltassem ainda evidências) que enunciar é sempre dar às coisas uma natureza mais real, mais consistente, mais profunda. Mais perigosa, em resumo. Uma vez postas a bruxulear pelo mundo, sem rumo nem propósito, às palavras não mais era permitido retornar ao quente abrigo escuro de onde jamais deveriam ter saído. E não se deixar trair pela boca era uma lição que ela se via incapaz de aprender.


[Entreato: And I'm a mess. A messy mess. And the thing is, I don't even want to know wheter that's good or bad or marvelous or disastrous. ]


II.

Outra lição em que fora a mais relapsa das alunas: a de se prevenir contra os desmandos do acaso. Pega de surpresa, via-se como que arrancada do terreno que fizera familiar, sem poder resistir a essa força que puxava e repuxava bruscamente uma profusão de minúsculos fios intangíveis. Queria colocar em descrédito qualquer idéia determinística, queria crer que algo ainda restava a seu arbítrio (caso contrário, haveria algo mais em que acreditar?). Mas era apenas uma menina, pouco mais que uma menininha, e, enquanto não aprendesse a dessa condição se libertar, continuaria a ser um só marionete, um mero joguete, entregue às mãos traiçoeiras do Tempo.


[ ... e no final do dia ainda choveu. não sei como coube tanto em um só, em uma só. ]

1 Comments:

Blogger debinh5 said...

uma que deveria ser 100.

11:44 AM  

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